Para muitos pacientes – e inclusive alguns médicos – há uma clara associação entre dor de cabeça e pressão alta. Com dor de cabeça, vários rapidamente retiram da gaveta da cômoda um aparelhinho qualquer ou se dirigem até a farmácia mais próxima para aferir a pressão que, na maioria das vezes, realmente, se encontra elevada. Uma clara associação surge junto com as palavras “a dor de cabeça é da pressão alta”. A parti daí, surgem diagnósticos errados de hipertensão, abuso desnecessário ou até prejudicial de medicações e visitas a emergência de grandes hospitais.
Hipertensão pode ocasionar dor de cabeça?
A resposta ainda é sim. O importante é entender que apenas pressões muito altas e com certas características estão realmente associadas a hipertensão.
Pressão sistólica menor que 160 mmHg (apelidada de “16”) e diastólica menor que 110 mmHg (aqui, a “segunda pressão”) não estão associadas a dor de cabeça. Nestes casos, a dor de cabeça aumenta a pressão e não o contrário. O dilema universal de “Quem veio primeiro o ovo ou a galinha?” cabe muito bem aqui. Mesmo em casos de pressões maiores (18, 19, 20 por 12, 13, 14…) a dor de cabeça é um sintoma incomum (presente em menos de 20% dos pacientes).
Além disso, “dor na nuca” não significa pressão alta. Quando a dor de cabeça está associada a hipertensão, geralmente é anterior, bilateral e tem caráter pulsátil. Na grande maioria das vezes as dores de cabeça nucais são tensionais e sobem a pressão, não o contrário, como discutimos acima.
Quando devo me preocupar?
Pressões mais altas, com sistólica maior que 160 mmHg ou diastólica maior que 110 mmHg.
Dores de cabeça associada a pressão alta e outros sintomas como:
- Palpitações, palidez ou rubor excessivo e sudorese (fazem diagnóstico diferencial com uma doença chamada feocromocitoma);
- Confusão, desorientação, alterações visuais, perda de força ou sensibilidade e náusea com vômitos (a hipertensão caminha para um quadro grave de encefalopatia hipertensiva);
- Gravidez (dor de cabeça associada a níveis mais altos de pressão arterial podem ser manifestações de pré-eclâmpsia).
O que fazer nestas situações?
Primeiro, tentar se acalmar, afinal quanto mais ansioso ou “nervoso” você ficar, mais dor sentirá e mais alta a pressão vai subir.
Se você já é hipertenso, recorde se já fez uso de suas medicações habituais. Se for possível, você pode antecipar o horário delas em algumas horas.
Na maioria das vezes, a dor de cabeça em nada tem relação com a pressão mais alta. Se não existirem sinais de alerta, analgésicos simples podem ser úteis para controle da dor. Evite anti-inflamatórios ou corticoide.
Não prolongue a situação, na persistência dos sintomas, sinais de alerta ou níveis muito elevados de pressão, entre em contato com seu médico ou procure um serviço de atendimento mais próximo.
Bibliografia
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Dr. Juscelio Trajano de Sousa Filho é médico com residência em Clínica Médica, Cardiologia e Ecocardiografia pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Atualmente, é médico do corpo clínico, do serviço de Urgência e Emergência e do Departamento de Imagem em Cardiologia do Hospital Sírio Libanês. Atende em consultório no endereço que consta no rodapé desta página.