Os disruptores endócrinos (DEs) são definidos pela Endocrine Society como: “substância química exógena [não-natural], ou mistura de substâncias químicas, que interferem com qualquer aspecto da ação hormonal”.
Hormônios são substâncias químicas naturais produzidas nas células dentro das glândulas endócrinas localizadas em todo o corpo e circulam no sangue em concentrações muito baixas e agem em seus órgãos-alvo, permitindo o desenvolvimento, adaptação e manutenção da saúde e de processos corporais. Muitos são absolutamente essenciais para nossa sobrevivência e deficiências em qualquer parte do sistema endócrino podem levar a doenças ou até mesmo à morte.
Geralmente, os DEs perturbam o sistema endócrino imitando ou bloqueando um hormônio natural. O exemplo mais comum é a desregulação endócrina dos hormônios estrogênicos, que embora sejam melhor conhecidos pelo seu papel na reprodução feminina, eles são igualmente importantes na reprodução masculina e também estão envolvidos em funções neurobiológicas, desenvolvimento e manutenção óssea, funções cardiovasculares, e em muitas outras funções.
Os receptores dos hormônios andrógenos (testosterona), progesterona, tireoide, e muitos outros sofrem interferência no seu funcionamento por DEs. Além disso, uma vez que DEs não são hormônios naturais, um único DE pode ter a capacidade de afetar múltiplas vias de sinalização hormonal. Assim sendo, é bastante provável que um tipo de DE possa interromper 2 (duas), 3 (três), ou mais funções endócrinas, com consequências generalizadas sobre vários processos biológicos, controlados por estas glândulas endócrinas vulneráveis a ação do DE.
Os DEs constituem um problema global e onipresente. A exposição pode ocorrer em casa, no escritório, no campo, no ar que respiramos, nos alimento que comemos e na água que bebemos. Estima-se que cerca de 1000 substâncias químicas podem ter propriedades de ação endócrina.
Os mais conhecidos incluem o DDT e outros pesticidas; bisfenol A (BPA) e ftalatos, utilizados em produtos infantis, produtos de higiene pessoal e em recipientes para alimentos; retardadores de chamas utilizados em móveis e pavimentos. Além dos DEs conhecidos, suspeita-se da existência de inúmeros DEs ou de substâncias químicas que nunca foram testadas.
Os DEs estão relacionados com a crescente incidência de doenças endócrinas pediátricas incluindo problemas reprodutivos masculinos (criptorquidia, hipospádia, câncer testicular, baixa contagem espermática), puberdade precoce, obesidade e diabetes mellitus, além do aumento da prevalência de cânceres sensíveis aos hormônios (por exemplo, câncer de mama e próstata), problemas com fertilidade, leucemia, câncer cerebral, distúrbios neurocomportamentais e doenças cardiovasculares.
Estima-se que globalmente, mais de 24% das doenças e distúrbios humanos são atribuíveis à fatores ambientais e que o meio ambiente desempenha um papel em 80% das doenças mais mortais, como câncer, doenças respiratórias e cardiovasculares.
Pessoas entram em contato com os DEs de várias formas, incluindo consumo de alimentos e água, através da pele, por inalação e pela transferência da mãe para o feto (através da placenta) ou da mãe para o bebê (através da lactação).
Além disso, há evidências de que os DEs induzem alterações em células germinativas, sendo seus efeitos hereditários não apenas aos filhos de um indivíduo, mas também aos seus netos, bisnetos e adiante.
A exposição à substâncias químicas ambientais dura para toda a vida. Alguns destes DEs são persistentes e bioacumuláveis (isto é, estabelecem-se ao longo do tempo nos tecidos corporais). A gordura é particularmente um reservatório importante dos DEs, uma vez que a composição destas substâncias químicas tende a torná-las lipossolúveis.
Fonte:
- INTRODUÇÃO AOS DISRUPTORES ENDÓCRINOS (DEs) UM GUIA PARA GOVERNOS E ORGANIZAÇÕES DE INTERESSE PÚBLICO – INICIATIVA CONJUNTA DA ENDOCRINE SOCIETY E IPEN.
Dra. Larissa Kallas Curiati é médica formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com residência médica em Pediatria e Endocrinologia Pediátrica no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Possui Título de Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Título de Especialista em Endocrinologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Plantonista do Serviço de Pronto Atendimento Infantil e da Enfermaria de Pediatria do Hospital Samaritano e membro da equipe de endocrinologia pediátrica do Hospital Samaritano e do Hospital Beneficência Portuguesa. Atende em consultório no endereço que consta no rodapé deste site.