Uso de Omeprazol e Risco de Demência

omeprazol

Os inibidores de bomba de prótons (IBP), como Omeprazol, Pantoprazol, Esomeprazol, Lanzoprazol e Rabeprazol, têm sido utilizados com uma frequência cada vez maior para o tratamento de distúrbios do aparelho digestivo, principalmente pela população idosa. Essa tendência pode ser atribuída à baixa incidência de efeitos colaterais graves, principalmente no curto prazo, e ao fácil acesso em farmácias e drogarias. Além disso, estudos científicos apontam que 40 a 60% das prescrições poderiam ser consideradas inadequadas, sem uma indicação clara para o uso. Recentemente, entretanto, tem surgido na população geral um certo grau de receio com o uso desses medicamentos diante da potencial associação a um maior risco de demência.

Uma das possíveis explicações para esse risco seria a predisposição à deficiência de vitamina B12, que participa da metabolização da homocisteína, substância tóxica aos neurônios e vasos sanguíneos. A absorção da vitamina B12 depende da acidez gástrica, que é combatida pelo uso de IBP e de outros medicamentos indicados com a mesma finalidade, como os antagonistas dos receptores de H2 Ranitidina, Cimetidina e Famotidina. Estudos já mostraram tanto a associação desses medicamentos com a deficiência de vitamina B12 como a associação da deficiência de vitamina B12 com demência.

Outra possível explicação seria um aumento dos níveis de beta-amiloide, principal constituinte das placas de amiloide encontradas no cérebro de pacientes com doença de Alzheimer, porém com evidência científica proveniente apenas de estudos com animais.

Dois estudos grandes, realizados na Alemanha e publicados em 2015 (3.327 pacientes) e 2016 (29.510 pacientes) detectaram uma associação entre o uso dos IBP e o risco aumentado de demência. Esses estudos compararam dois grupos de pacientes com mais de 75 anos que originalmente não tinham diagnóstico de demência. Um grupo com prescrição e dispensação regular de IBP e o outro sem prescrição nem dispensação de IBP no mesmo intervalo de tempo. Os pacientes foram acompanhados por períodos de 6 a 7 anos e houve maior incidência de novos diagnósticos de demência no grupo com prescrição e dispensação de IBP. Os estudos levaram em conta alguns potenciais fatores de confusão como polifarmácia, depressão, diabetes, insuficiência cardíaca isquêmica e acidente vascular cerebral, que são fatores de risco para demência. Os estudos mencionados são observacionais, epidemiológicos, e detectam variações nas características de elementos estudados em um período de tempo, mas não definem uma relação direta de causa-efeito. Para isso seriam necessários ensaios clínicos randomizados, que ainda não foram desenvolvidos para elucidar essa questão.

Cabe ressaltar que as evidências de maior risco de demência com o uso de IBP ainda não são robustas. Os dois únicos estudos grandes realizados até agora identificaram que os inibidores de bomba de prótons se enquadram como mais um fator de risco para demência, que se soma a todos os outros que a população idosa está sujeita. A demência não seria, portanto, uma consequência obrigatória do uso dessa classe de medicamentos. Além disso, os resultados que correlacionam o uso de IPB com demência ou deficiência de vitamina B12 encontrados até agora foram observados apenas com o uso prolongado desses medicamentos (acima de 2 anos de uso).

Estes dados servem, todavia, para alertar a população para o uso racional dessa classe de medicamentos. Os inibidores de bomba de prótons ainda podem ser considerados seguros desde que utilizados adequadamente, para o tratamento de diagnósticos específicos, como gastrite e refluxo gastroesofágico, com orientação médica e dentro do tempo adequado do tratamento.

Farm. Laura Hulshof

Referências

1. Lam J. R., et al., Proton pump inhibitor and histamine 2 receptor antagonist use and vitamin B12 deficiency. Journal of the American Medical Association, 2013. 310(22): p2435-42.

2. Haenisch B., et al., Risk of dementia in elderly patients with the use of proton pump inhibitors. European Archives of Psychiatry and Clinical Neurosciences, 2015. 265(5): p419-28.

3. Gomm W., et al., Association of proton pump inhibitors with risk of dementia: a pharmacoepidemiological claims data analysis. JAMA Neurology, 2016. 73(4): p410-6.

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