O Sarampo está de volta com tudo, infelizmente. Após o Brasil ter sido considerado país livre de Sarampo em 2016, vivemos um surto da doença em 2018 com mais de 10 mil casos registrados, especialmente no Amazonas e em Roraima. Estamos passando novamente por outro surto, com aumento dos casos em mais de 300% no Município de São Paulo entre os meses de junho e julho de 2019.
O sarampo é uma doença grave, altamente transmissível e que não tem tratamento específico. A prevenção através da vacinação é a única forma de se proteger.
A doença é causada por um vírus do gênero Morbillivirus, da família Paramyxoviridae e é transmitida de forma direta, por meio de secreções expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar. A transmissão ocorre de quatro a seis dias antes e até quatro dias após o aparecimento do exantema (manchas vermelhas pelo corpo). O período de maior transmissibilidade ocorre dois dias antes e dois dias após o início do exantema. O vírus vacinal não é transmissível.
O sarampo afeta, igualmente, ambos os sexos. A incidência, a evolução clínica e a letalidade são influenciadas pelas condições socioeconômicas, nutricionais e imunológicas do indivíduo.
As principais manifestações da doença são febre alta (acima de 38,5°C), dor de cabeça, manchas vermelhas pelo corpo, que surgem primeiro no rosto e atrás das orelhas, e, em seguida, se espalham, tosse, coriza, conjuntivite. Manchas brancas que aparecem na mucosa bucal conhecida como sinal de koplik, que antecede de 1 a 2 dias antes do aparecimento das manchas vermelhas, são bastante sugestivas da doença. A ocorrência de febre, por mais de três dias, após o aparecimento das erupções na pele, é um sinal de alerta, podendo indicar o aparecimento de complicações.
As complicações, geralmente, se instalam durante o período exantemático, mas a encefalite pode aparecer após o 20º dia do quadro. As complicações mais comuns do sarampo são infecções respiratórias, otites, doenças diarreicas e doenças neurológicas e podem deixar sequelas como diminuição da capacidade mental, cegueira, surdez e retardo do crescimento. O agravamento da doença pode levar à morte de crianças e adultos.
O diagnóstico é confirmado com a realização de exames de sangue para identificação de anticorpos específicos IgM no sangue, na fase aguda da doença, desde os primeiros dias até 4 semanas após o aparecimento do exantema e pela identificação viral na urina, nas secreções nasofaringes, no sangue, no líquor ou em tecidos do corpo.
Não existe tratamento específico para o sarampo. É recomendável a administração da vitamina A em crianças acometidas pela doença, a fim de reduzir a ocorrência de casos graves e fatais. Para os casos sem complicação o tratamento consiste em suporte clínico com hidratação, suporte nutricional e controle da febre.
A vacinação é a única maneira de prevenir a doença. O esquema vacinal vigente é de duas doses de vacina com componente sarampo (pode ser a tríplice viral ou a tetra viral) para pessoas de 12 meses até 29 anos de idade, sendo uma dose da vacina tríplice viral aos 12 meses de idade e uma dose da vacina tetra viral aos 15 meses de idade. Até 29 anos o indivíduo deverá ter duas doses. Uma dose da vacina tríplice viral também está indicada para pessoas de 30 a 49 anos de idade.
Os órgãos públicos não recomendam a vacinação para pessoas que nasceram antes de 1960, porque o grupo provavelmente já teve contato com o vírus e está naturalmente imunizado. No entanto, se quiserem tomar, não há problema ou risco à saúde.
Atualmente nessa época da surto, o Ministério da Saúde e a Prefeitura do Município de São Paulo estão fazendo uma campanha de vacinação com indicação de vacinar TODOS os jovens entre 15 e 29 anos de idade, independente de quantas doses já tiverem recebido e bebês entre 6 meses e 11 meses e 29 dias.
Essa dose em menores de 12 meses é considerada uma dose “extra” e o restante do calendário vacinal deve ser mantido, com nova dose as 12 e 15 meses de vida, sempre respeitando o intervalo mínimo de 1 mês entre cada dose.
Algumas pessoas não devem tomar vacinas, como gestantes, menores de 6 meses de idade, imunocomprometidos por doença ou medicação, pessoas com histórico de alergia grave (anafilaxia) após aplicação de dose anterior das vacinas ou a algum de seus componentes e alérgicos à proteína do leite da vaca não devem tomar a vacina Serum Institute of India, que contém traços de lactoalbumina.
A vacina é composta por vírus vivos atenuados (enfraquecidos) e as reações vacinais são febre, exantema e coriza e/ou tosse leve, e podem ocorrer entre o 4º e 12º dia em 20% dos vacinados.
A campanha de vacinação foi prorrogada até o dia 16 de agosto de 2019 e a vacina está sendo oferecida gratuitamente nos postos de saúde. Cheque sua carteirinha de vacinação e proteja-se!
Fonte:
- Ministério de Saúde
- Prefeitura do Município de São Paulo
Dra. Larissa Kallas Curiati é médica formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com residência médica em Pediatria e Endocrinologia Pediátrica no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Possui Título de Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Título de Especialista em Endocrinologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Plantonista do Serviço de Pronto Atendimento Infantil do Hospital Samaritano e membro da equipe de endocrinologia pediátrica do Hospital Samaritano e do Hospital Beneficência Portuguesa. Atende em consultório no endereço que consta no rodapé deste site.