O Instituto Nacional do Câncer (INCA) registra, a cada ano, 135 mil novos casos e o câncer da pele responde por 25% de todos os diagnósticos de câncer no Brasil. A prevalência de câncer de pele está aumentando em todo o mundo como resultado principalmente da exposição cumulativa e intensa à radiação solar. Ele é mais frequente em caucasianos, mas pode ocorrer em pessoas com qualquer cor de pele. Existem diversos tipos de câncer de pele, sendo os mais comuns o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e melanoma.
O carcinoma basocelular (CBC) é o mais comum deles. Ele é derivado das células basais da epiderme e tem crescimento lento. Normalmente trata-se de um nódulo róseo e com brilho perláceo, bastante friável e por isso normalmente apresenta sangramento quando traumatizado. Esse tipo de câncer raramente gera metástases, mas pode ser localmente invasivo e destrutivo.
Já o carcinoma espinocelular (CEC) é um tumor que surge das células escamosas da pele e por isso mostra-se como uma lesão espessada e endurecida que cresce lateralmente e verticalmente, podendo se tornar nodular e com crostas. Muitas vezes a lesão ulcera e se apresenta como uma ferida que não cicatriza. Ao contrário do CBC, o CEC pode disseminar para nódulos linfáticos e apresenta crescimento mais rápido.
O melanoma é o tipo de câncer mais preocupante e felizmente o menos prevalente dos três. Ele é um câncer cutâneo potencialmente fatal que deriva dos melanócitos, tendendo a metástases por via linfática e sanguínea. A incidência de câncer de pele melanoma aumentou substancialmente durante as últimas décadas. Apesar do aumento nas técnicas para rastreamento precoce, a mortalidade ainda se mantém elevada. Em escala mundial, a educação da população e campanhas de rastreamento devem ser implementadas.
Clinicamente o melanoma pode apresentar-se principalmente como uma lesão enegrecida em crescimento, mas também existem formas com pouco ou nenhum pigmento. A maioria das lesões de melanoma se desenvolvem de novo, ou seja, já surge como melanoma na área em que a pele era sã. Porém em torno de 20 a 30 % das lesões surgem de nevos (“pintas”) pré-existentes. Devemos suspeitar de lesões pigmentadas que apresentem assimetria de forma, bordas irregulares, várias cores, diâmetro maior que 6 mm e evolução ou mudança rápida (regra do ABCDE). Além disso, a presença de vários nevos é um fator de risco para melanoma.
Como não existem meios de prevenir o melanoma, o diagnóstico precoce da lesão é a melhor forma de evitar metástase e desdobramento fatal. Isso porque uma lesão de melanoma, quando diagnosticada em sua fase inicial apresenta um risco mínimo ou inexistente de metástase, uma vez que a exérese cirúrgica da lesão com margem adequada é curativa. Ao contrário, uma lesão diagnosticada já em fase avançada pode ser catastrófica para o indivíduo.
A dermatoscopia é um exame de imagem in vivo, não invasivo, que permite a visualização de estruturas não identificadas a olho nu. Inicialmente auxiliava no diagnóstico precoce de melanomas e lesões pigmentares de pele, mas atualmente é também uma parte indispensável do exame dermatológico. Muitos dizem que o dermatoscópio está para o dermatologista assim como o estetoscópico está para o clínico ou cardiologista. Sendo assim, a dermatoscopia foi extrapolada para o diagnóstico precoce de lesões de pele benignas e câncer de pele não-melanoma, como carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular, queratose actinica, entre outros tumores mais raros.
A dermatoscopia digital (como o Fotofinder) é uma técnica ainda mais avançada que permite ao médico um diagnóstico mais preciso da mancha ou pinta na pele, utilizando-se de câmera e microscópico com aumento de 20 a 70 vezes. Também disponibiliza em tempo real as informações necessárias para registro, comparação e análise de manchas ou pintas pigmentares na pele.
A educação dos pacientes e o auto-exame são importantes e, por isso, toda vez que perceber uma lesão de pele nova que esteja crescendo ou caso note uma ferida que não cicatriza, procure um dermatologista. Caso contrário, a consulta dermatológica deve ser no mínimo anual. Exija do seu dermatologista que nesta ocasião realize o exame dermatológico completo, da pele de todo o corpo, com o uso do dermatoscópio. O exame completo da pele por um médico experiente ainda permanece como padrão ouro para o diagnóstico de câncer de pele.
Referências
1. Deinlein T., et al., The use of dermatoscopy in diagnosis and therapy of nonmelanocytic skin câncer. Journal of the German Society of Dermatology, 2016. 1402: p1610-0379.
2. Stratigos A. J., et al., The value of screening in melanoma. Clinics in Dermatology, 2009. 27: p10-25.
3. Mayer J. E., et al., Screening, early detection, education and trends for melanoma: current status (2007-2013) and future directions. Part I. Journal of the American Academy of Dermatology, 2014. 71(4).
4. Gandhi S. A., et al., Skin cancer epidemiology, detection and management. Medical Clinics of North America, 2015. 99: p1323–1335.
5. Helfand M., et al., Screening for Skin Cancer. American Journal of Preventive Medicine, 2001. 20 (3S).
Dra. Paula Sanchez, CRM 144.418, é médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com residência médica em dermatologia pela mesma instituição, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Possui título de especialista em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e é membro titular da SBD, assim como da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD) e da Sociedade Internacional de Dermatoscopia (IDS). Atua como médica pesquisadora do grupo de Melanoma e Mapeamento Corporal Fotográfico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e no consultório particular. Contato: 011 2640-6152.