O Idoso e a Vulnerabilidade às Doenças Transmitidas por Mosquitos: Dengue, Zika e Chikungunya

mosquito

Segue a primavera, e com o advento das chuvas e a aproximação do verão, mais uma vez surge o risco, de certa forma previsível, da chegada dos mosquitos e, com eles, das doenças virais, também conhecidas como arboviroses. Entre elas, a principal em nosso meio é a Dengue, doença introduzida no Brasil em 1986 e com importante aumento nas últimas décadas, em especial nos últimos anos, quando ocorreram epidemias históricas, com recordes ano após ano – em 2015 foram registrados 1,6 milhão de casos em todo o Brasil, o maior número desde o inicio da doença no país. No último biênio, o estado de São Paulo apresentou o maior número de casos em nível nacional, sendo responsável por metade de todos os casos em 2015.

Mais recentemente, além da Dengue, novos arbovírus, Zika e Chikungunya,  foram introduzidos no Brasil e no estado de São Paulo, com tremendo impacto no cenário de saúde brasileiro. Somente esse ano mais de 3000 casos de infecção pelo vírus Zika foram notificados no estado, entre janeiro e setembro, sendo as principais cidades acometidas Araraquara, Campinas e Barretos. A Chikungunya também já está presente no estado e no município de São Paulo, porém ainda em menor quantidade.

De modo geral, os extremos de idade são os períodos da vida associados a alta suscetibilidade a infecções. Na população acima dos 65 anos, várias razões contribuem para esse fato, como um sistema imunológico mais comprometido e diminuição de algumas funções fisiológicas, como o reflexo de tosse e a capacidade de cicatrização. Na doença da dengue, entre a população adulta, os idosos são os que mais necessitam de internação hospitalar, são os mais acometidos pela forma grave, classicamente conhecida como “febre hemorrágica da dengue”, e, junto com a população infantil, apresentam o maior número de óbitos.

O período entre a picada do mosquito e o inicio dos sintomas, conhecido como período de incubação, dura em média 4 a 7 dias e o principal sintoma, comum a essas três doenças, é a febre. A dengue apresenta como outras características principais intensa dor no corpo (mialgia) e dor de cabeça (cefaléia), além de manchas na pele e sintomas gastrointestinais, como vômito e diarréia. O principal risco da dengue está associado a suas complicações hemorrágicas. Nesse contexto, medicações para pacientes com alto risco cardiovascular, muito usadas na faixa etária geriátrica, como aspirina e outros antiagregantes plaquetários e/ou anticoagulantes, podem agravar o quadro e devem ser manejadas com cautela. Na presença dos sintomas característicos, uma avaliação inicial é fundamental para afastar sinais de gravidade, verificar estado de hidratação e realizar a monitorização das plaquetas, além de toda orientação necessária. Para os pacientes em uso de medicações antiplaquetárias, o médico deve avaliar a manutenção ou interrupção de tais medicamentos.

A doença causada pelo vírus Chikungunya, além da febre, possui como principal característica a forte dor nas articulações, que pode, inclusive, ser incapacitante e durar meses ou até anos após o quadro agudo, com uma curso muito semelhante ao da artrite reumatoide. Sabe-se que a persistência dos sintomas é ainda mais importante na população acima dos 65 anos, em parte por causa da maior associação com problemas osteomusculares crônicos pregressos, frequentes nessa faixa etária. O tratamento necessita de adequado, e nem sempre fácil, manejo de analgésicos, em alguns casos com o uso conjunto de imunomoduladores. Tal acompanhamento é realizado idealmente por um médico reumatologista. Outras complicações e óbitos são incomuns e estão associados principalmente a manifestações raras, como o acometimento do sistema nervoso central.

Quanto à doença causada pelo Zika vírus, os principais sintomas são febre, manchas no corpo (“rash”) e “vermelhidão nos olhos” (hiperemia conjuntival). Sua principal complicação na população adulta é a Síndrome de Guillaim Barré, caracterizada por uma perda de força generalizada e progressiva, que pode evoluir com insuficiência respiratória, manifestação grave e potencialmente fatal, porém reversível através de intenso suporte clínico. Como se trata de uma infecção mais recente, há pouca informação específica relativa à população idosa e pouco se sabe sobre o real impacto do vírus nesse grupo etário.

É importante salientar que, apesar dessas doenças não apresentarem sintomas respiratórios como tosse, coriza e dor de garganta, eles podem estar presentes concomitantemente na população de idade mais avançada e, portanto, é necessária a avaliação cuidadosa de um médico em caso de suspeita diagnóstica.

É de fundamental importância manter uma boa hidratação e estar vigilante quanto a sintomas de gravidade, como sangramentos de qualquer tipo, redução do volume urinário, confusão mental, desmaio, falta de ar e vômitos que não cessam mesmo após uso de medicação específica, entre outros. Na presença desses sinais de alarme, um serviço de urgência deverá ser procurado.

O principal mosquito responsável pela transmissão é o Aedes aegypti, porém o Aedes albopictus também pode transmitir os três vírus, e ambos são encontrados em praticamente todo território nacional, em especial nos grandes centros urbanos. A principal forma de proteger-se da doença é protegendo-se do vetor. A seguir, algumas dicas:

  • Usar roupas compridas e com mangas longas;
  • Usar de repelente continuamente quando em ambientes abertos – No Brasil, os componentes com Icaridina são os que contém maior eficácia e duração;
  • Fechar as janelas (principalmente no início da manhã e no final da tarde) ou usar telas;
  • Usar repelentes dentro do domicilio – Em geral, os mosquitos preferem as áreas escuras e frias, como embaixo da cama, atrás das cortinas e nos banheiros;
  • Usar de redes com telas de proteção se dormir em ambiente aberto;

O advento de novas infecções e a persistência das antigas causam uma justificada angústia na população idosa. Contudo, é importante sabermos que a mortalidade relacionada a essas doenças, especialmente a Dengue, pode ser reduzida com os cuidados clínicos adequados. A rápida detecção dos sintomas e a avaliação médica precoce quanto a gravidade do caso, seguidas das orientações e das condutas apropriadas, são fundamentais e ressaltam a importância da atenção e do cuidado com o idoso.

Dr. Lucas Chaves Netto

Referências

1.         http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/situacao-epidemiologica-dados-dengue.

2.         Pesaro, A. E., et al., Dengue: manifestações cardíacas e implicações na terapêutica antitrombótica. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2007. 89(2): e12-15.

3.         Simon-Djamel T., et al., Chikungunya fever: Epidemiology, clinical syndrome, pathogenesis and therapy. Antiviral Research, 2013. 99: 345–70.

Dr. Lucas Chaves Netto é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com residência médica em Moléstias Infecciosas pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atua como Médico Assistente do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e Médico do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês, além de atender em consultório particular na Bela Vista. Contato: 011 3159-1921.

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