Nutrientes e saúde óssea – a suplementação é necessária?

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Com o objetivo de se manter saudável e envelhecer com saúde, incluindo a saúde óssea, 70% dos idosos americanos e 26% dos idosos europeus utilizam suplementos dietéticos, com ou sem prescrição médica. Qual seria o papel deles na saúde óssea?

Nosso esqueleto é uma estrutura dinâmica que sofre constantes alterações. Na infância, há o crescimento e o desenvolvimento dos ossos. Esses eventos se intensificam na adolescência, enquanto que o pico de massa óssea ocorre entre a segunda e terceira décadas de vida.

Apesar dos ossos de um adulto parecerem estáticos, são estruturas constantemente renovadas através de dois processos denominados reabsorção e formação. Nesses processos, osso antigo é reabsorvido e substituído por um tecido ósseo novo. Suportados por uma nutrição adequada, exercícios físicos e níveis hormonais normais, a massa óssea se mantém relativamente estável na idade adulta.

Com o envelhecimento e especialmente com a menopausa, há uma predominância do processo de reabsorção sobre o de formação, o que pode levar ao desenvolvimento de osteoporose. Como o próprio nome sugere, na osteoporose os ossos se tornam mais porosos e com maior predisposição a fraturas. Uma nutrição adequada pode atenuar esse declínio da massa óssea.

O cálcio e o fósforo são principais componentes minerais dos ossos. O fósforo está presente em diversas fontes alimentares, como carnes, grãos, legumes e laticínios, assim como em aditivos utilizados pela indústria no processamento de alimentos. Por ser facilmente disponível na dieta a deficiência nutricional de fósforo é extremamente rara.

Já o cálcio encontra-se presente especialmente no leite e nos derivados, sejam eles integrais ou desnatados, com ou sem lactose e sua ingestão é imprescindível para a saúde óssea. O ideal é que sejam consumidos de 1000 a 1200mg de cálcio por dia, sendo 800 a 1000mg de origem láctea, já que uma dieta habitual sem laticínios possui cerca de 250mg de cálcio.

Tabela: Quantidade de cálcio em laticínios

LaticínioCálcio por porção (mg)
Leite integral (200ml – 1 copo)240
Leite desnatado (200ml – 1 copo)244
Iogurte natural integral (170g)240
Iogurte natural desnatado (170g)305
Iogurte grego (100g)130
Coalhada caseira (100g)83
Queijo muçarela (30g – 2 fatias)348
Queijo minas (30g – 1 fatia média)150
Requeijão cremoso light (30g – 1 colher)107

Fonte: Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso)

* O teor de cálcio dos laticínios pode variar conforme o processo de industrialização

Ainda que estudos antigos tenham associado a suplementação de cálcio a um aumento de risco cardiovascular, estudos mais recentes e melhores não confirmaram essa associação e demonstraram a segurança dessa suplementação.

É recomendada que a ingestão de cálcio seja realizada primariamente através dos alimentos. Caso não se consiga cumprir as cotas diárias de laticínios ou haja contraindicação ao consumo dos mesmos, a suplementação de cálcio pode ser realizada com segurança, conforme orientação médica.

A vitamina D é um hormônio importante para que o cálcio possa ser absorvido adequadamente no intestino e, consequentemente, é essencial para a saúde dos ossos. Fontes alimentares de vitamina D são pouco comuns. Ela está presente em quantidades muito pequenas em alguns peixes (como o salmão selvagem), cogumelos e gema de ovo. Nossa maior fonte de vitamina D é a produção pela pele através da exposição solar. Esta depende de variáveis como o horário do dia, estações do ano e capacidade de produção (idosos, por exemplo, podem ter essa capacidade reduzida).

A suplementação de vitamina D é indicada quando a mesma encontra-se abaixo dos níveis sanguíneos recomendados. Para a população geral, níveis sanguíneos de vitamina D acima de 20 ng/ml são considerados adequados. Para pessoas com alterações ósseas (como quem tem osteoporose) é necessário mantê-la em níveis superiores a 30 ng/ml. É importante ressaltar que valores sanguíneos de vitamina D acima de 50 ng/ml não trazem benefícios adicionais à saúde e aumentam o risco de intoxicação pela própria vitamina. Portanto nem todas as pessoas precisam utilizar tais suplementos e o uso indiscriminado deles não é recomendado.

Não existe evidência de que a suplementação de magnésio, vitamina E, fósforo, isoflavonas ou vitamina K tragam benefício para a saúde dos ossos.

Os nutrientes críticos e essenciais para os ossos são cálcio e vitamina D. É importante que estes estejam suficientes, seja pela alimentação, pela exposição solar ou, em casos selecionados, após avaliação médica, em forma de suplementação. De qualquer modo, saúde óssea é idealmente obtida através de uma dieta balanceada e hábitos saudáveis e não isoladamente através da suplementação nutricional.

Bibliografia

1.    Akkawi I, Zmerly H. Osteoporosis: Current Concepts. Joints. 2018 Jun 14;6(2):122-127

2.    Viswanathan M, Reddy S, Berkman N, Cullen K, Middleton JC, Nicholson WK, et al. Screening to Prevent Osteoporotic Fractures: Updated Evidence Report and Systematic Review for the US Preventive Services Task Force. JAMA. 2018 Jun 26;319(24):2532-2551

3.    Bailey RL, Gahche JJ, Lentino CV, et al. Dietary supplement use in the United States, 2003–2006. J Nutr. 2011;141:261–266.

Dra. Sthefanie Pallone é médica formada pela Universidade Estadual de Maringá, com residência médica em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Londrina e Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal do Paraná. Possui título de especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Atualmente é doutoranda em Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal de São Paulo e atende em consultório em Pinheiros, cujo telefone de contato é (11) 3081-5050.

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