As quedas representam um evento muito comum na terceira idade. Estima-se que 1 em cada 3 idosos cairá nos próximos 12 meses e, com o envelhecimento populacional, este problema tende a se ampliar. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, o número de mortes por quedas em idosos quadruplicou na última década. Esse tipo de evento representa a principal causa externa de morte para a população idosa, além de aumentar o risco de internação hospitalar e dependência funcional. Atualmente, 90% das fraturas de fêmur em idosos são devido a quedas e cerca de 30% dos que sofrem esta fratura perdem a capacidade de realizar suas atividades como faziam antes de cair. Trata-se, portanto, de tema de grande importância, e o primeiro passo para prevenção é a conscientização da sociedade, dos idosos e dos familiares a respeito da sua relevância. Quanto mais precocemente medidas adequadas forem tomadas, maior a chance de controle riscos e prevenção das consequências negativas.
Outro efeito indesejado das quedas é o medo de cair novamente. Por vezes, o medo e a insegurança levam a restrição das atividades diárias, isolamento social, inatividade física e, consequentemente, maior risco de nova queda. Resulta um efeito dominó, que compromete a qualidade de vida. Por isso, atualmente é consenso que idosos que apresentaram pelo menos uma queda no último ano devam passar por uma avaliação geriátrica ampliada.
Cabe ressaltar que a queda muitas vezes é um indicativo de que algo não vai bem com a saúde do idoso, podendo ser manifestação de doenças, tais como demência, parkinson, neuropatia diabética, alteração da visão, distúrbios do labirinto, problemas musculares ou do equilíbrio e deficiência de vitamina D, ou ainda decorrente de efeitos colaterais de medicamentos. Entre os principais medicamentos que aumentam o risco de quedas estão os sedativos usados para auxiliar no sono, muitas vezes de forma abusiva e sem o adequado acompanhamento médico.
Apesar de queda ser um evento com potencial devastador na terceira idade, existem diversas medidas preventivas eficazes para redução dos riscos. A prevenção se baseia na atuação direcionada para os fatores de risco individuais e no atendimento multidimensional, preferencialmente por uma equipe gerontológica devidamente treinada nesta forma de atendimento integrado. A estratégia multidisciplinar representa atualmente a melhor forma na prevenção de novas quedas, com ênfase no adequado diagnostico e tratamento dos diversos fatores de risco.
O elemento chave na prevenção é a criação de um ambiente seguro. Esse ponto é aquele em que familiares e o próprio idoso mais podem colaborar. Prover uma iluminação adequada, evitar objetos e fios espalhados pelo chão e instalar corrimão nos dois lados das escadas e barras de segurança no banheiro (um dos locais mais frequente de quedas) são medidas relevantes. Eventualmente, outras modificações devem ser feitas de acordo a necessidade individual.
Evitar quedas é uma tarefa desafiadora e deve estar inserida num contexto amplo de promoção a saúde e prevenção de limitações funcionais. O tema tem despertado evidente interesse da sociedade de modo geral e do meio científico, dessa forma outros avanços importantes na abordagem diagnóstica e terapêutica surgirão no futuro próximo.
Dra. Kelem de Negreiros Cabral
Referências
1. Drootin M., Summary of the updated american geriatrics society/british geriatrics society clinical practice guideline for prevention of falls in older persons. Journal of the American Geriatrics Society, 2011. 59(1): p148-57.
2. Maciel V.S.S.S., et al., Perfil epidemiológico das quedas em idosos residentes em capitais brasileiras utilizando o Sistema de Informações sobre Mortalidade. Revista da Associação Médica do Rio Grande do Sul, 2010. 54(1): p25–31.