O início mais tardio das doenças relacionadas ao envelhecimento e o declínio das taxas de incapacidade fazem dos idosos de hoje em dia mais saudáveis do que os idosos de gerações anteriores.
Já em 44 AC, Cícero refutou os estereótipos negativos prevalentes sobre o envelhecimento e enumerou maneiras de obter resultados positivos em idade avançada, como a adaptação dos papeis na vida e os exercícios mentais. Na literatura médica, em 1961, o termo “envelhecimento bem sucedido” foi usado pela primeira vez no editorial da primeira edição da revista The Gerontologist, sendo descrito como a obtenção de um máximo de satisfação da vida. Desde então, múltiplas teorias procuraram definir e explicar esse conceito. Fries, em 1980, descreveu o conceito da compressão da morbidade, que consistiria em atrasar o início da incapacidade para encurtar a proporção da vida durante a qual um indivíduo a experimentraria. De acordo com esse conceito, a fase tardia ideal envolveria viver livre de incapacidade até a morte. Rowe e Kahn, em 1987, desenvolveram um modelo teórico segundo o qual o envelhecimento bem sucedido dependeria de ausência de doença e incapacidade, bom engajamento físico e cognitivo e engajamento social.
Do ponto de vista cultural, em 2015, a revista The Gerontologist, a mesma citada no parágrafo anterior, publicou um artigo sobre a representação do envelhecimento no cinema. Segundo esse artigo, os filmes seriam um espelho de como a sociedade se enxerga, ilustrariam a percepção cultural da vida em idades mais avançadas e ressoariam o questionamento sobre como envelhecer com sucesso. Em função da falta de conhecimento sobre a mudança de perspectiva e do desnudamento relacionados ao fim da vida, as produções atuais costumam valorizar a idade avançada pelas lentes do jovem, apresentando o envelhecimento como uma ameaça à qual os personagens resistem heroicamente ou sucumbem como vítimas. Nesse artigo. são sugeridos cinco filmes recentes que refletiriam aspectos interiores e transcendentes do envelhecimento: The Stone Angel, de 2007; Unfinished Song, de 2012; All Together, de 2011; Last Vegas, de 2013; e Still Mine, de 2013.
Os principais determinantes do envelhecimento bem sucedido são a herança genética, a saúde biológica, a saúde mental, o ambiente sociocultural e os hábitos de vida, dentre os quais a não exposição ao tabaco, o consumo moderado de álcool, a prática regular de atividade física moderada a intensa, a manutenção do peso ou do índice de massa corpórea dentro dos limites da normalidade e a alimentação saudável.
Finalmente, para aqueles que procuram envelhecer bem, é possível enumerar as principais estratégias que pode ser utilizadas durante a vida:
- Atividade física. A prática regular de atividade física está associada a redução de mortalidade, incapacidade, doença cardiovascular, osteoporose e determinados tipos de câncer, aumento do funcionamento cognitivo e do volume cerebral e efeito antidepressivo. Os mecanismos através dos quais a atividade física melhora a saúde emocional incluem aumento da serotonina, da secreção de noradrenalina e da atividade dopaminérgica, aumento dos opioides endógenos e dos endocanabinoides e diminuição da inflamação e da degeneração do sistema nervoso central. Em indivíduos idosos, liberação médica e acompanhamento apropriado são partes importantes do plano de exercício físico.
- Dieta, com restrição calórica quando adequado. Estudos em animais indicam que a restrição calórica pode aumentar a longevidade e ensaios em humanos indicam que pode melhorar pressão arterial, colesterol, peso, triglicérides e memória. Os principais mecanismos seriam aumento da eficiência do metabolismo, redução do estresse oxidativo , aumento da sensibilidade à insulina e efeitos na sinalização celular e no reparo de DNA. As principais barreiras são a palatabilidade, a adesão a longo prazo e o risco de sarcopenia (perda de massa e força muscular) e fragilidade.
- Estimulação e treino cognitivos. Apesar do acúmulo de evidências sobre a relação entre atividades cognitivamente estimulantes e menor risco de demência, a generalização dos benefícios do treinamento cognitivo ainda é questionável, pois a melhora do desempenho cognitivo deve ter impacto na capacidade de executar tarefas e os produtos comercializados raramente estão associados a estudos científicos.
- Intervenções sociais. A atividade social pode ser um vetor para estados de saúde. O ambiente construído pode determinar o acesso à alimentação saudável e à prática de atividade física, além de influenciar a suscetibilidade a doenças infectocontagiosas. O acesso à educação determina, ao menos em parte, a reserva cognitiva potencial.
- Meditação. Pode ser definida como um conjunto de modalidades de treinamento mental direcionadas para a regulação emocional através de exercícios de atenção. Além da melhora subjetiva do estresse, estudos de neuroimagem sugerem que o processo de envelhecimento pode ser modificado pela meditação. Também há evidência de melhora cognitiva e da pressão arterial.
Referências
1. Depp, C., et al., Successsful Aging: Focus on Cognitive and Emotional Health. Annual Review of Clinical Psychology, 2010. 6: p. 527-50.
2. Vanden Bosch, J, Filming “Successful Aging”. The Gerontologist, 2015. 55(1): p. 169-70.
3. Peel, N.M., et al., Behavioral Determinants of Healthy Aging. American Journal of Preventive Medicine, 2005. 28(3): p. 298-304.
Dr. Pedro Kallas Curiati é médico formado pela Faculdade de Medicina da USP, com residência médica em Clínica Médica e Geriatria no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Está cursando Doutorado na Faculdade de Medicina da USP. Possui Títulos de Especialista em Clínica Médica e Geriatria pela Faculdade de Medicina da USP. Membro do Corpo Clínico e do Núcleo Avançado de Geriatria do Hospital Sírio Libanês. Plantonista do Serviço de Pronto Atendimento Geriátrico Especializado (ProAGE) do Hospital Sírio Libanês. Atende em consultório no endereço que consta no rodapé deste site.