Agosto Dourado e Aleitamento Materno

agosto

Agosto Dourado foi instituído no Brasil em 2017 e tem como objetivo a conscientização da sociedade sobre a importância do aleitamento materno. O dourado faz alusão à definição da OMS (Organização Mundial da Saúde) para o leite materno: alimento de ouro para a saúde dos bebês.

A amamentação tem uma importância vital na construção de uma saúde com base sólida, que irá refletir na saúde do indivíduo pelo resto da sua vida. Nesse texto vou numerar efeitos benéficos a saúde em curto e longo prazo para o bebê, além dos benefícios para a mãe e para a economia.

Lembrando que o aleitamento materno exclusivo é recomendado pela OMS até os 6 meses de vida e deve ser mantido em associação a alimentação complementar até os 2 anos.

Já está mais do que comprovada a redução da mortalidade em crianças menores de 6 meses em aleitamento materno exclusivo por doenças infecciosas. Estimativas recentes sugerem que se a amamentação fosse ampliada para níveis quase universais, poderia prevenir cerca de 12% das mortes de crianças menores de 5 anos a cada ano, ou cerca de 820.000 mortes em países de média e baixa renda.

A amamentação protege contra diarreia e infecções respiratórias, sendo que metade de todos os episódios de diarreia e um terço das infecções respiratórias poderiam ser prevenidas pela amamentação, assim como 72% das internações por diarreia e 57% das por infecções respiratórias. Além de uma redução de 33% nos casos de otite média nos primeiros 2 anos de vida.

As crianças amamentadas têm risco 36% menor de serem vítimas da Síndrome da Morte Súbita do Lactente e 21% menor de desenvolverem rinite alérgica nos primeiros 5 anos.

A longo prazo, já está bem documentada a redução de até 26% na chance de desenvolver sobrepeso ou obesidade tardiamente na infância, adolescência ou fase adulta e uma redução da incidência de diabetes tipo 2 em indivíduos amamentados. Também é descrito um risco 20% menor de leucemia.

O leite materno contém substâncias bioativas, tais como ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (AGPICL), que são essenciais para o desenvolvimento cerebral. Dois derivados desses ácidos, o ácido araquidônico (ARA ou ômega 6) e o ácido docosahexaenoico (DHA ou ômega 3), desempenham papel essencial na manutenção, no crescimento e no desenvolvimento do cérebro. Estudos controlados demonstram que as mães que apresentam taxas mais altas de DHA no sangue na hora do parto têm filhos que posteriormente obtêm pontuações mais altas em testes de inteligência, demonstrando que o DHA é uma substância importante para o desenvolvimento cerebral das crianças em todas as idades, principalmente nas prematuras.

Uma maior duração da amamentação está associada a menos sintomas de déficit de atenção e hiperatividade, uma melhora nas áreas comportamentais e um quociente de inteligência (QI) mais elevado.

Além de todos esses benefícios para o bebê, a amamentação também faz muito bem para as mães e cria um vínculo único e especial entre mãe e filho. As mulheres que amamentam têm uma redução significativa da chance de desenvolver diabetes e câncer de mama, ovário e endométrio quando comparadas às mulheres que não amamentam. Quanto maior a duração da amamentação, maior a redução dos riscos. Também, nas mulheres que realizam cirurgia para tratamento de câncer de mama, a chance de morrer pela doença chega a ser até 3 vezes menor no primeiro grupo.

Estima-se que 19.464 mortes anuais por câncer de mama são prevenidas com as atuais taxas de aleitamento materno e que um adicional de 22.216 mortes poderiam ser prevenidas se a duração do aleitamento materno fosse de pelo menos 12 meses nos países desenvolvidos e de 24 meses nos de média e baixa renda.

O aleitamento materno também apresenta impacto importante na economia. Estima-se que a ampliação em 10% nas taxas de aleitamento materno exclusivo até 6 meses ou de amamentação continuada até 12 ou 24 meses poderia reduzir em pelo menos 1,8 milhão de dólares os custos anuais com tratamentos de doenças em crianças no Brasil. E se os índices atuais subissem para 90%, a economia seria da ordem de 6 milhões.

Os números são impactantes e ilustram a importância da conscientização sobre o tema.

Bibliografia

1.    Victora CG, Bahl R, Barros AJD, et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong eff ect. Lancet. 2016;387(10033):2089-90.

2.    Sankar MJ, Sinha B, Chowdhury R, et al. Optimal breastfeeding practices and infant and child mortality. A systematic review and metaanalysis. Acta Paediatr. 2015; 104:3-13.

3.    Horta BL, Victora CG. Short-term eff ects of breastfeeding: a systematic review of the benefi ts of breastfeeding on diarhoea and pneumonia mortality. Geneva: World Health Organization, 2013.

4.    Horta BL, de Mola CL, Victora CG. Long-term consequences of breastfeeding on cholesterol, obesity, systolic blood pressure, and type-2 diabetes: systematic review and meta-analysis. Acta Paediatr. 2015;104: 30–7.

5.    Horta BL, Loret de Mola C, Victora CG. Breastfeeding and intelligence: a systematic review and meta-analysis. Acta Paediatr. 2015;104:14–9.

Dra. Larissa Kallas Curiati é médica formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com residência médica em Pediatria e Endocrinologia Pediátrica no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Possui Título de Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Plantonista do Serviço de Pronto Atendimento Infantil do Hospital Samaritano. Atende em consultório no endereço que consta no rodapé deste site.

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